O ciúme e o relacionamento saudável.

12 de junho de 2025

Psic. Vitória M. C. Prioste Maracci
CRP 08/30677

Dia dos namorados chegando e, quando essa data chega, muitas perguntas sobre o amor e relacionamentos surgem. Uma das principais perguntas é sobre “do que é composto um relacionamento saudável”. Na psicologia, aquilo que define o que é bom para os pacientes está conectado aos seus valores. No entanto, existem alguns direcionamentos básicos trazidos pela ciência psicológica a fim de trazer alguns direcionamentos sobre uma relação saudável.

Muito (mas não só) do que traz a realidade de um relacionamento saudável com alguém é, antes de tudo, trabalhar a si mesmo. É comum vermos pessoas que buscam relações como uma forma de fugir da própria companhia ou como fruto de disfarçar as questões que precisam ser administradas dentro do seu próprio self.

A maturidade, que vem de uma auto análise justa e de um trabalhar constante do seu próprio eu, traz uma série de implicações saudáveis para um relacionamento; como, por exemplo, a diferenciação de self – termo criado por Murray Bowen, da Terapia Sistêmica Familiar. Esse conceito aborda nossa capacidade de reagir de forma consciente às pressões externas e internas – não cedendo ao emocionalismo e nem ao racionalismo exagerado, mas buscando equilibrar o acolhimento das emoções com uma postura de racionalidade (e não de reatividade emocional) frente aos desafios. A diferenciação de self, reflexo dessa maturidade, também traz a busca por um equilíbrio entre espaço individual e espaço coletivo, de forma em que estar com alguém não se torne sinônimo de esquecer-se dos conteúdos singulares. A diferenciação também traz a habilidade de discernirmos o que é nosso e o que é do outro, de modo que não projetemos conteúdos nossos no outro e nem assumamos responsabilidades que são do outro para nós mesmos, de forma irrefletida.

É possível viver um relacionamento de companheirismo, intenso acolhimento, conexão, mútua parceria, respeito, doação, crescimento, dedicação, amizade, amor e intimidade de uma forma em que a identidade de cada um seja preservada e, ao mesmo tempo, melhorada através da relação. Um relacionamento saudável não anula quem somos, mas melhora o que precisa ser ajustado e valida o que já existe de bom. 

O ciúme, por sua vez, inverte essa perspectiva. Ele parte da premissa de POSSE, de que possuímos o outro e, por muitas vezes, pode ser fruto da insegurança do outro parceiro, que pode precisar trabalhar melhor seu exercício de diferenciação de self. É possível sermos prudentes e cuidadosos no relacionamento sem sermos ciumentos. Importante salientar que ciúme não é sinônimo de cuidado. Ciúme, por muitas vezes, reflete insegurança, falta de confiança, valores não compartilhados da mesma forma e incompatibilidades de cumprimento de combinados e expectativas, entre tantas outras coisas. Geralmente, o ciúme é sintoma, não a causa. Há a necessidade desses aspectos serem trabalhados no relacionamento, através do diálogo, da escuta mútua – de forma que cada um, exercendo a diferenciação de self que lhe é própria, possa ajustar uma maneira de ser cuidadoso no relacionamento em que não haja o sentimento de posse, mas de prudência, cuidado e amor.

O ciúmes não precisa te dominar. Ele pode virar um convite pra você se conhecer melhor.” 🤍 (Alana Anijar)